sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Chico Buarque - os botões e os amigos

Politheama é o time de futebol do nosso grande artista, que ele mantém no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro e também o seu time de botão.

 Chico Buarque e Vinícius de Moraes

Das brincadeiras de uma geração que cresceu antes dos jogos eletrônicos – como o bafo, as bolinhas de gude e o pião – algumas resistiram ao tempo e até se profissionalizaram. Elas podem não fazer mais parte do seu cotidiano, mas são assunto sério para muita gente acima dos 30. É o caso do futebol de mesa, o popular futebol de botão.
Um dos adeptos mais ilustres da prática é o compositor Chico Buarque. Como todo bom jogador, Chico entrava em campo com o seu time do coração, mas ao contrário do uso corrente, a sua equipe não era uma réplica de um grande clube de futebol. Chico inventou um time, batizou-o de Politeama, compôs um hino para ele (“Politeama, Politeama, o povo clama por você/ Politeama, Politeama, cultiva a fama de não perder”) e mais tarde trouxe-o à vida em amistosos com jogadores de verdade.
Em uma entrevista, o músico revelou que, antes do Politeama, os jogos de botão eram muitas vezes uma atividade solitária no chão de madeira da casa dos seus pais. “Era eu contra eu mesmo… fazia campeonatos, paulistas e cariocas, juntava aqueles doze times, que eram doze na época no Rio, e doze em São Paulo, e roubava um pouquinho também. Roubava pro Fluminense, ele era sempre campeão”, conta.

Chico Buarque relata em suas crônicas romanas durante o exílio na Itália, no final da década de 60 e início dos anos 70 que durante a sua adolescência em São Paulo, costumava assistir a quase todos os grandes jogos de futebol realizados no Pacaembu, devido a proximidade da casa da família com o Estádio e a grande paixão que passava a nutrir por aquele esporte.
Um dos maiores ídolos de todos os tempos conheceu naquele período e chamava-se Pagão, centro-avante titular e que chegara ao Santos Futebol Clube, antes de Pelé, e que formaria nos anos seguintes uma das maiores duplas de atacantes do futebol brasileiro.

A admiração de Chico Buarque pelo estilo de jogo e técnica aprimorada de Pagão, no comando do ataque santista era tão profunda que Chico quando fundou seu time de futebol com os amigos para jogarem no seu sítio no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro, atuava sempre com a camisa 9 do Politheama e assinava a súmula do jogo com o codinome “Pagão “, do mesmo modo como gostava de ser chamado pelos companheiros de equipe.
Numa certa ocasião, a equipe do Politheama excursionou a Santos para uma apresentação beneficente de futebol quando pode concretizar um dos seus grandes sonhos. Conhecer e conversar demoradamente com o seu ídolo “ Pagão “, e realizar uma troca de camisetas de nºs. 9, entre as duas equipes, guardando cuidadosamente, na maleta, a camiseta do companheiro de tabelinhas e jogadas de cinema de Pelé, no Santos F.C. 
 Chico Buarque x Chico Anysio

No time do Politheama de futebol de botão, Pagão será certamente o botão branco de galalite, titular da camisa no. 9 , pela eternidade, formando no ataque do seu super esquadrão, com outro ídolo de sua adolescência, o ponteiro camisa 11 Canhoteiro, que costuma dizer, “ só Chico Buarque viu jogar “. Canhoteiro, também deve ser outro botão eternizado como titular do Politheama porque o ponteiro era uma versão canhota do grande Mané Garrincha do Botafogo do Rio de Janeiro, só não se consagrando na Seleção Brasileira por ser contemporâneo de Pepe e Zagalo, os dois ponteiros bi-campeões mundiais de futebol.
Além das partidas de futebol de campo e futebol society, realizadas com outros artistas, músicos e companheiros do Politheama nos campos do sítio, Chico Buarque também curtia realizar confrontos de futebol de botão com os parceiros amigos Vinicius de Morais, Chico Anysio, Toquinho, Osmar Prado ( do teatro e novelas da Globo ), e os companheiros inseparáveis do Grupo MPB 4, em especial, todos fanáticos por um bom jogo de futebol de botão.
Osmar Prado contou-nos em visita realizada no departamento de futebol de botão de mesa do Internacional, no Ginásio Gigantinho, que, na falta ou extravio de bolinhas esféricas de feltro para competição na hora dos jogos,os próprios botonistas, a partir de retalhos de camadas de feltros, devidamente costuradas à mão, improvisavam e confeccionavam novas bolinhas, artesanalmente, para o bom andamento dos jogos e os campeonatos não sofrerem solução de continuidade.
Não ficavam muito perfeitas, como as bolas oficiais industrializadas, mas os torneios podiam continuar dia e noite. 

Uma outra história, contada pelo próprio Chico Buarque. Jogavam um campeonato de futebol de botão Chico Anysio, Vinicius de Morais e Chico. Como sabem todos os botonistas, o Politheama tem um hino composto pelo seu presidente e acionista majoritário ( Chico Buarque ) que costuma cantá-lo ou, ao menos, assobiar sua melodia, durante seus jogos, cuja musicalidade contagiante transfere-se para todo o ambiente de competição, penetrando nos ouvidos do árbitro Vinicius de Morais que também começa a assobiá-la ao ritmo do hino.

Chico Anysio que, além de jogador e técnico da sua equipe, também costuma narrar os jogos, suspende repentinamente a narração vibrante que vinha fazendo para reclamar ao adversário e à mesa de controle da Liga, a falta de isenção do juiz da partida, Vinicius de Morais e a sua escancarada torcida pela equipe adversária, pois assobiava junto com o técnico Chico Buarque o hino do Politheama.
Matéria elaborada com base em diversos depoimentos extraídos e postados na Internet, bem como em textos publicados na imprensa brasileira.
fonte: Material de Enio Seibert

Um comentário:

  1. Interessante! Eu sabia apenas do time de Chico, mas não que tanta gente boa já havia duelado contra ele!

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