segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Lembranças da fábrica Brianezi na antiga São Paulo

Amigos botonistas, escrevi uma reportagem nostálgica que lembra um pouco a minha infância em São Paulo marcada pelos botões Brianezi. Espero que apreciem!

por Ricardo Bucci

No final de 1979 aparecia na garagem de minha casa um luxuoso Opala branco. Comprado pelo meu pai e carinhosamente apelidado de "Opalão", o carro traduzia um pouco o que foi a minha infância aos cinco, seis anos de idade, vivida numa São Paulo mais civilizada do que hoje, mais limpa e menos violenta. Quase todos os finais de semana, o Opalão saía nas ruas calmas de São Paulo. Dentro do automóvel, adorava ficar sentado numa espécie de "banquinho" de criança, que o carro comportava nos anos 70, que se localizava na frente, perto do câmbio. O trajeto já estava traçado: shoppings e magazines em busca das pequenas miniaturas de futebol de botão.
1979-1980: Eu com a camisa da seleção ainda CBD e o Opala branco de meu pai

Eram muitas lojas que vendiam as raridades recém-saídas do forno da saudosa fábrica Brianezi. Quase todas as lojas de esportes continham os famosos botões. Lembro-me de algumas: 'Esporte Paulista', na Rua Augusta, 'Sport Spada', na mesma rua, 'Procópio', 'Bayard', 'Esportes Orestes', no centro da cidade, Esportes Fabiano, no Tatuapé, e os grandes magazines como 'Eldorado', na Rua Pamplona (hoje Carrefour), 'Jumbo-Eletro' (hoje Extra, na Av. Brigadeiro Luis Antônio), 'Mappin', 'Mesbla' e 'Sears' (hoje Shopping Paulista). Não tive a oportunidade de conhecer a lojinha da Brianezi, que se localizava na Av. Álvaro Ramos, na Mooca, onde num reduto escuro, nos fundos, rolava campeonatos disputadíssimos entre pais e filhos e a criançada delirava. Lá, podíamos encontrar um verdadeiro arsenal de brinquedos e jogos. Mesas oficiais, palhetas coloridas e outros aparatos, como todos os brinquedos de esporte de mesa, além de centenas de times nacionais, internacionais e seleções. O detalhe curioso é que a Brianezi cobrava uma mensalidade dos disputantes de seus torneios, mas destinava toda a sua renda para a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).
O saudoso Jumbo Eletro. Foto da Revista Manchete em jan/1980, mas fotografada na segunda metade dos anos 70. Acervo particular de Ricardo Bucci

O jornalista paulistano e colecionador de botões, André do Nascimento Pereira, recorda de seu primeiro Brianezi que foi ganho de amigo secreto em 1981. "Tinha pedido o América - RJ na lista, porém, meu tio não o encontrou e me presenteou com um Fluminense - RJ (branco, com números e as duas faixas em verde), que não o tenho mais", lembra com saudades. André relembra as muitas idas e vindas nas lojas antigas que eram espalhadas por São Paulo: 'Sport Spada' (Rua Teodoro Sampaio), 'Rica Sports' (Rua Turiassu com Rua Cardoso de Almeida), departamento de Artigos Esportivos do 'Jumbo-Eletro' (dentro do antigo Superbom/Shopping Matarazzo, hoje Bourbon), além de 'Center Sport' e 'A Esportista' (ambas no shopping Iguatemi). "Aos poucos fui conseguindo ampliar a coleção entre os anos 80 e 90", salienta.
A cidade de São Paulo numa fantástica vista da Av. Paulista no fim da déc. de 70. Acervo particular de Ricardo Bucci, Revista Manchete.

No fim dos anos 70 e início dos 80, reinava na Brianezi os famosos botões de acetato de celulóide importado. Na antiga fábrica era possível conhecer todo o processo de fabricação dos botões, desde o corte nas folhas de celulóide, até a embalagem final. Depois do corte em forma circular, as pequenas peças eram esquentadas numa chapa de ferro e prensadas para se tornarem botões. Em seguida eram colocados os escudos e números e, em alguns modelos, aquelas faixas que até hoje são adoradas pelos colecionadores mais sedentos. Já os adesivos precisavam ser molhados para serem fixados. Depois de secos, os escudos e números eram esmaltados com base para não soltar e nem entrar tinta entre os adesivos e o botão. Logo após vinha a pintura, tudo manual, um por um, uma verdadeira obra artesanal! Após a tinta secar, os botões tinham a base lixada para ficarem retos. E, para finalizar, eram lavados, secos e limpos para serem embalados nos estojinhos.
Os Brianezi em ação. Revista Placar (jan/1987)

Enfim, depois do passeio nos shoppings, o Opala branco estava de volta. Na bagagem os estojinhos que continham os inúmeros times. Qualquer criança da época ficava fascinada com as cores do New York Cosmos que a Brianezi produzia, onde atuava o Rei Pelé. A Brianezi foi a primeira fábrica que confeccionou o time. Sem dúvida, uma de minhas maiores alegrias durante a infância foi ter adquirido este time. Confesso que sinto muitas saudades de toda esta época mágica e lúdica.
Eu (caçulinha na foto) e meu irmão com os Brianezi duas faixas na antiga mesa 'Coluna'. (dez/1980)
New York Cosmos

4 comentários:

  1. Ricardo, seu blog é muito bom. Moro aqui na Moóca, e quase todos os dias quando saio do Sesc Belenzinho, dou de cara com o famoso nº 930 da Álvaro Ramos, onde atualmente parece ser uma oficina de carros. Joguei muito botão quando moleque, mas acredite, nunca tive um Brianezi, embora ficava babando quando via um time desse fabricante, na vitrini da loja Marcial, que ficava na Fernando Falcão bem perto da minha casa. Breve vou lhe mandar um email contando mais detalhes da minha história com o mundo do botão. Parabéns pelo seu blog, e um grande abraço, Kleber da Moóca.

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  2. Muito obrigado Kleber pelo comentário! Quantas saudades a Brianezi deixou. Não conheci de perto todo o império que a fábrica tinha na Álvaro Ramos, deveria ser o máximo. Pena mesmo que ela encerrou a produção. Adoraria se ela pudesse voltar, seria mágico. Um abraço, Ricardo

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