domingo, 10 de maio de 2015

Chico Buarque: 70 anos de amor ao Futebol de Botão

Botões para Sempre publica uma entrevista antiga com o mestre e botonista Chico Buarque de Holanda ao jornal 'O Pasquim' e também na Revista Manchete de 1970 com o saudoso jornalista Armando Nogueira. O assunto, claro, não poderia ser outro: a paixão do poeta pelo futebol de botão. Detalhe: Chico Buarque tentou introduzir o nosso amado esporte na Itália.
Jaguar -  Você lançou na Itália o futebol de botão, ou já existia lá ?

Chico Buarque - Eu tentei, mas não consegui, porque eles têm um futebol de botão, mas é muito diferente, é muito chato. Eu tentei impor o nosso e eles queriam impor o deles, aí não deu pé.

Fortuna -  Como é que é o futebol de botão lá ? É futebol de fecho éclair ?

Chico Buarque -  Não, é com botão mesmo, mas é com 'peteleco', as bolas são quadradas, são dadinhos. Eu acho o futebol  de botão uma coisa muito bacana e a melhor maneira de se jogar é fazer a coisa mais parecida com o futebol de verdade, isso é uma discussão velha e tal, mas lá é a coisa mais diferente. O pessoal dizia: não, mas assim é mais técnico. No nosso futebol os jogadores têm nome, camisa, a bola é redonda, no futebol que a gente joga no Rio. Na Bahia já é diferente, me mandaram uma vez o regulamento deles, é um outro jogo.

Fortuna -  Você pode explicar como é o futebol de botão baiano ?
Chico Buarque - Eles foram de uma gentileza muito grande comigo, me convidaram para ir à federação deles e me deram um jogo de times, mas eu não consegui me adaptar. É completamente diferente. Eu acho que eles têm a unha dura porque são uns botões muito grandes e em vez de palheta eles usam a unha. É um negócio que só joga um de cada vez. Eles explicaram que isso é mais técnico, que é muito mais fácil do que ficar controlando a bola, mas, sei lá, eu não gostei. Agora eu vou estudar esse negócio de novo porque é uma matéria muito séria.
Chico Buarque jogando botão na Bahia

Sérgio - No campeonato de botão que vocês faziam o negócio chegou a um aprimoramento ?

Chico Buarque - Eu faço questão de dizer que eu fui campeão.

Sérgio -  Quem participava mais ?

Chico Buarque -  Três do  MPB 4, Hugo Carvana, Cláudio Marzo, Eli Halfun, um primo meu, um vizinho do Aquiles do MPB 4 , o cunhado do Magro do MPB 4, eram doze pessoas e eu fui campeão.
Sérgio -  Parabéns. Agora eu sei que vocês chegaram a um negócio muito sofisticado do ponto de vista de regras e estatutos, tinha lei de passe e uma moeda especial. Como é que era ?

Chico Buarque - Isso acabou não sendo desenvolvido porque eu fiz uma excursão com o meu clube, o Politheama, e não deu tempo de organizar toda a coisa.  Talvez agora dê, vamos ver. Aliás, por uma questão de honestidade, eu não fui campeão do campeonato, eu fui campeão do torneio início. O primeiro campeonato nunca chegou a ser realizado. Em breve vai ser e nós daremos notícia  para o PASQUIM. 

Revista Manchete 
Acervo: Enio Seibert

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