1968 - fonte de texto: Trivela
Vinte anos atrás, antes da
influência da telefonia celular em nosso cotidiano, a palavra torpedo tinha
apenas dois significados. Para a maioria, referia-se a algum armamento bélico.
Para a turma que gosta de futebol, representava um clube de Moscou. Um clube
que representava a resistência dentro do governo comunista. O time teve suas
origens em 1924, em sindicatos de trabalhadores automobilísticos e estudantes
de escolas técnicas do pais. Não recebia apoio da polícia, exército ou do
Kremlin. Semelhantemente à qualquer país comunista, seus atletas eram
“convidados” para atuar nas equipes maiores (CSKA, Dinamo e Spartak). Mas, a
partir da conquista da Copa da União Soviética de 1949, o Torpedo atreveu-se a
ser grande.
Escudos
Era a equipe de Valentin Ivanov
(124 gols) e Eduard Streltsov, que viria a ser apelidado de “Pelé Russo” (99
gols). A dupla do Torpedo conquistou duas das maiores glórias do futebol
soviético (Eurocopa de 1960 e Jogos Olímpicos de 1956). Em 1957, esse time
ainda recebeu em Moscou o time emergente do Bahia, que se tornaria dois anos
depois o primeiro campeão do Brasil, para um público de 80 mil pessoas.
Streltsov passou a sofrer perseguições por não querer sair do Torpedo, foi
expulso da seleção a poucos dias do Mundial da Suécia e passou cinco anos
preso, em um processo contraditório até hoje. Em 2001, o enxadrista Anatoly
Karpov, grande fã do jogador, até criou o Comitê Streltsov para restaurar a
reputação do jogador. Ivanov comandou a equipe na dobradinha de 1960 (campeonato
e copa) foi um dos artilheiros do Mundial de 1962 no Chile.
Em 1963 após forte pressão
popular, Streltsov foi liberado e retornaria para o Torpedo, sem a cabeleira
marcante e simbólica para a juventude russa. A dupla brilhou na conquista do
campeonato de 1965. Streltsov ainda foi eleito o melhor jogador do país em 1967
e 68 (foto acima) com a conquista da Copa da URSS. Ivanov já estava aposentado,
mas ele ainda retornaria a brilhar pelo clube como técnico, comandando a equipe
no título nacional de 1976 (o último do clube) em cima do Dynamo de
Kiev de Oleg Blokhin, Bola de Ouro no ano anterior. O Torpedo ainda
conseguiu a Copa da União Soviética em 1986 e algumas participações na Copa da
Uefa, mas ficou longe de repetir o desempenho de seus momentos de glória. Com o
fim da União Soviética, o clube conquistou a Copa da Rússia em 1993, mas não
resistiu. Continuou ligado à montadora ZIL, de onde saiu a maior parte de
seus fundadores (na época, a empresa se chamava AMO), que vendeu o clube em
1996 por problemas financeiros.
Nesse momento, a história do
Torpedo fica estranha. A Luzhniki, empresa que é dona do estádio de mesmo nome,
comprou o clube e o renomeou como Torpedo-Luzhniki. A gestão foi tétrica, e o
clube foi parar na quarta divisão (amadora) em 2009 por irregularidades
financeiras mal explicadas. Enquanto isso, a ZIL criou outro clube, o
Torpedo-ZIL, que saiu da terceira divisão e, em 2001, chegou na elite. Em 2003,
o time foi vendido para a MMC (empresa de mineração) e mudou de nome para
FC Moskva (FC Moscou no Brasil), mas faliu em 2010. Ao vender o Torpedo-ZIL
para a MMC, em 2003, a
ZIL criou um novo Torpedo-ZIL, mas esse não conseguiu progredir a partir da
quarta divisão.
Em 2009, o Torpedo
verdadeiro voltou às origens. A Luzhniki vendeu o clube de volta à ZIL. A
montadora fechou o Torpedo-ZIL para cuidar apenas da equipe com a qual tinha
ligações históricas. Rapidamente, o clube renasceu. Em cinco anos, saiu da
quarta divisão e voltou à elite do futebol russo. Em 2013, chegou em terceiro
na segunda divisão e nos playoffs eliminou o Krylya Sovetov, antepenúltimo da
primeira divisão. Os tempos agora são outros, de Putin a Abramovich. Mas
não duvidem da resistência dos automobilistas. De sofrimento eles já
conhecem tudo.
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