quarta-feira, 4 de maio de 2016

José Silvério: Do Futebol de Botão para a Copa do Mundo

José Silvério ("O pai do gol") deve sua carreira ao futebol de botão. Na adolescência os amigos se divertiam enquanto Silvério fazia a narração dos jogos. Em 1964, no jogo Olímpico e Bragantino, em comemoração ao aniversário de Lavras (MG), no último momento o locutor da Rádio Cultura sentiu-se mal e não encontraram ninguém para substituí-lo. Quem deu a solução foi Itamar Mazzochi, que trabalhava na Rádio Cultura, frequentava a mesa de futebol de botão e se divertia com as narrações do menino José Silvério. “Pessoal tem um garoto lá no jogo de botão que é bom demais, acho que ele faria uma narração perfeita. Faz um teste com ele.” indicou Itamar. Sem saída, aceitaram a sugestão meio estranha e fizeram o teste, durante o treino do Olímpico. O menino Silvério surpreendeu a todos, aprendeu rápido a utilizar o microfone. Foi aprovado no mesmo instante. O jogo foi narrado pelo garoto do futebol de botão com sucesso, e virou o locutor oficial da Rádio Cultura. Mas foi por pouco tempo. Em seu sétimo jogo pela Cultura, Jaime Gomide da Rádio Itatiaia estava em Lavras e ouviu a narração de José Silvério pelo rádio.
Assim que chegou em Belo Horizonte sugeriu que o contratassem. Eles queriam sangue novo, e estavam buscando um locutor jovem. Só não sabiam que era tão jovem. Perceberam que era praticamente ainda uma criança, quando José Silvério, ao receber o convite por telefone, explicou que teriam que falar com sua mãe D. Cidinha, pois ainda não tinha 18 anos. Se a rádio Itatiaia queria um locutor jovem, tinha achado. Foi o início de uma carreira que só conheceu sucesso.  Em Belo Horizonte ficou na Rádio Itatiaia de 64 até 67, depois na Inconfidência de 67 até 71 e na Continental de 71 até 74. Chamou a atenção da Tupi de São Paulo que o contatou para a sucursal do Rio. Do Rio foi para a Jovem Pan onde ficou de 75 até 2.000, quando substituiu Osmar Santos. Em 2005 foi contratado pela Rádio Bandeirantes onde está até hoje.
No sofá da sala de sua casa, cercado pelos quadros de seus pintores preferidos como Aldemir Martins, Djanira e Rebolo que decoram sua casa, José Silvério lembra de alguns momentos marcantes de sua carreira, como a primeira vez em que entrou nas cabines de transmissão do Maracanã. “Em 1965 eu tinha 19 anos e fui escalado para transmitir os jogos do torneio do quarto centenário do Rio de Janeiro. Participavam entre outros os times do Vasco, Flamengo, o Atlético de Madrid, a seleção da Alemanha Oriental. Era a primeira vez que entrava no Maracanã. Quando vi estava junto de meus ídolos, ao meu lado estava Waldir Amaral, Jorge Curi que sempre ouvi pelo rádio e eu, ali no meio deles. Foi muita emoção”.
Foram muitas emoções, como a transmissão do jogo Brasil e Paraguai que teve a maior público do Maracanã, jogo decisivo para a classificação do Brasil na copa de 70, quando quase 200 mil pessoas participaram do jogo que garantiu a classificação da seleção. Mas se a carreira de José Silvério teve muitas alegrias teve também momentos de tristeza como na copa de 1986 na Espanha. “Foi a única vez que chorei. Foi na final em que o Zico perdeu o pênalti. Ele havia feito o passe para o Branco fazer o gol que levou o Brasil para a disputa por pênaltis e perdeu o seu…Era muito amigo do Telê Santana, chorei por ele. Quando o Brasil perdeu não conseguia entender como uma seleção tão brilhante não foi a campeã. Aliás, nem eu nem ninguém. São os caprichos dos deuses do futebol, como dizia Nelson Rodrigues. Talvez por isso o futebol empolgue tanta gente, é imprevisível.”
Participou de 11 Copas do Mundo como locutor, mas uma em que não participou lembra com humor foi o jogo da Copa do Mundo de 1954. Era o jogo Brasil x Iugoslávia, Silvério tinha 8 anos e ainda morava em Itumirim. “A cidade não tinha luz elétrica e não existiam rádios a pilha. O dono da venda conectava o rádio na bateria do caminhão. E toda a cidade ouvia o jogo na venda, no único rádio da cidade. O problema é que, às vezes, o caminhão era utilizado para entregar queijos e atrasava. Ficava todo mundo desesperado. E foi o que aconteceu. O jogo já tinha começado e nada do caminhão chegar. Até que chegou e puderam ouvir o jogo” lembra José Silvério.
O que os amigos de infância de José Silvério não imaginavam é que no futuro iriam ouvir aquele menino nervoso com a demora da bateria do caminhão, transmitir os jogos de seus times e as futuras copas do mundo e que se tornaria um dos mais conhecidos locutores de futebol do país.
Fonte: Revista Taipe

Um comentário:

  1. Ricardo, o nome da sensação Audax foi meio que escolhido por José Silvério. O investidor sugeriu narrações de gols com 3 nomes diferentes de times a José. A narração de gol do Audax foi a melhor.

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