José
Silvério ("O pai do gol") deve sua carreira ao futebol de botão. Na adolescência os amigos se
divertiam enquanto Silvério fazia a narração dos jogos. Em 1964, no jogo
Olímpico e Bragantino, em comemoração ao aniversário de Lavras (MG), no último
momento o locutor da Rádio Cultura sentiu-se mal e não encontraram ninguém para
substituí-lo. Quem deu a solução foi Itamar Mazzochi, que trabalhava na Rádio
Cultura, frequentava a mesa de futebol de botão e se divertia com as narrações
do menino José Silvério. “Pessoal tem um garoto lá no jogo de botão que é bom
demais, acho que ele faria uma narração perfeita. Faz um teste com ele.”
indicou Itamar. Sem saída, aceitaram a sugestão meio estranha e fizeram o
teste, durante o treino do Olímpico. O menino Silvério surpreendeu a todos, aprendeu
rápido a utilizar o microfone. Foi aprovado no mesmo instante. O jogo foi
narrado pelo garoto do futebol de botão com sucesso, e virou o locutor oficial
da Rádio Cultura. Mas foi por pouco tempo. Em seu sétimo jogo pela Cultura,
Jaime Gomide da Rádio Itatiaia estava em Lavras e ouviu a narração de José
Silvério pelo rádio.
Assim
que chegou em Belo Horizonte sugeriu que o contratassem. Eles queriam sangue
novo, e estavam buscando um locutor jovem. Só não sabiam que era tão jovem.
Perceberam que era praticamente ainda uma criança, quando José Silvério, ao
receber o convite por telefone, explicou que teriam que falar com sua mãe D.
Cidinha, pois ainda não tinha 18 anos. Se a rádio Itatiaia queria um locutor
jovem, tinha achado. Foi o início de uma carreira que só conheceu
sucesso. Em Belo Horizonte ficou na Rádio Itatiaia de 64 até 67, depois
na Inconfidência de 67 até 71 e na Continental de 71 até 74. Chamou a atenção
da Tupi de São Paulo que o contatou para a sucursal do Rio. Do Rio foi para a Jovem
Pan onde ficou de 75 até 2.000, quando substituiu Osmar Santos. Em 2005 foi
contratado pela Rádio Bandeirantes onde está até hoje.
No sofá da sala de sua casa,
cercado pelos quadros de seus pintores preferidos como Aldemir Martins, Djanira
e Rebolo que decoram sua casa, José Silvério lembra de alguns momentos
marcantes de sua carreira, como a primeira vez em que entrou nas cabines de
transmissão do Maracanã. “Em 1965 eu tinha 19 anos e fui escalado para
transmitir os jogos do torneio do quarto centenário do Rio de Janeiro.
Participavam entre outros os times do Vasco, Flamengo, o Atlético de Madrid, a
seleção da Alemanha Oriental. Era a primeira vez que entrava no Maracanã.
Quando vi estava junto de meus ídolos, ao meu lado estava Waldir Amaral, Jorge
Curi que sempre ouvi pelo rádio e eu, ali no meio deles. Foi muita emoção”.
Foram muitas emoções, como a
transmissão do jogo Brasil e Paraguai que teve a maior público do Maracanã,
jogo decisivo para a classificação do Brasil na copa de 70, quando quase 200
mil pessoas participaram do jogo que garantiu a classificação da seleção. Mas
se a carreira de José Silvério teve muitas alegrias teve também momentos de
tristeza como na copa de 1986 na Espanha. “Foi a única vez que chorei. Foi na
final em que o Zico perdeu o pênalti. Ele havia feito o passe para o Branco
fazer o gol que levou o Brasil para a disputa por pênaltis e perdeu o seu…Era
muito amigo do Telê Santana, chorei por ele. Quando o Brasil perdeu não
conseguia entender como uma seleção tão brilhante não foi a campeã. Aliás, nem
eu nem ninguém. São os caprichos dos deuses do futebol, como dizia Nelson
Rodrigues. Talvez por isso o futebol empolgue tanta gente, é imprevisível.”
Participou de 11 Copas do Mundo
como locutor, mas uma em que não participou lembra com humor foi o jogo da Copa
do Mundo de 1954. Era o jogo Brasil x Iugoslávia, Silvério tinha 8 anos e ainda
morava em Itumirim. “A cidade não tinha luz elétrica e não existiam rádios a
pilha. O dono da venda conectava o rádio na bateria do caminhão. E toda a
cidade ouvia o jogo na venda, no único rádio da cidade. O problema é que, às
vezes, o caminhão era utilizado para entregar queijos e atrasava. Ficava todo
mundo desesperado. E foi o que aconteceu. O jogo já tinha começado e nada do
caminhão chegar. Até que chegou e puderam ouvir o jogo” lembra José Silvério.
O que os amigos de infância de
José Silvério não imaginavam é que no futuro iriam ouvir aquele menino nervoso
com a demora da bateria do caminhão, transmitir os jogos de seus times e as
futuras copas do mundo e que se tornaria um dos mais conhecidos locutores de
futebol do país.
Fonte: Revista Taipe
Ricardo, o nome da sensação Audax foi meio que escolhido por José Silvério. O investidor sugeriu narrações de gols com 3 nomes diferentes de times a José. A narração de gol do Audax foi a melhor.
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