Jornalista revela:
‘Cuidado em colecionar itens antigos, sobretudo brinquedos e botões’
Segundo Bucci, o Mau Caratismo impera em um contingente bem grande de colecionadores, comerciantes e revendedores que mexem com brinquedos e jogos de botões antigos.
Nascido na metade dos anos 70, o botonista paulistano ainda guarda exemplares que seus familiares compraram. Em meados de 2011 ele voltou a colecionar botões, mas garante que conseguir tais itens raros vem piorando a cada ano, muito motivado por esquemas perniciosos entre comerciantes e colecionadores.
Corria o fim dos 70´s. Nas imagens da TV, ainda poucas lembranças da Copa de 1978, na Argentina. Nessa época, o jornalista Bucci, que passou por quase todas as revistas de gastronomia de São Paulo, brincava com seu irmão mais velho, que é Juiz de Direito do Fórum Cível da Capital Paulistana.
“Naqueles idos meu saudoso avô vinha me buscar para comprarmos juntos com meu irmão, vários pacotinhos da Gulliver ‘carinhas’ numa banca de jornais, na Rua Batataes, nos Jardins.”, recorda.
Os campeonatos rolavam no Estrelão, famosa ‘tábua’ de botão da Estrela e posteriormente no começo dos 80´s, substituída pela ‘Coluna Brinquedos’. “Ainda guardo os campeonatos que realizava nos anos 80. Os papéis ficaram surrados pela ação do tempo”, conta.
Os dois primeiros jogos de botões de Bucci vieram da paixão do seu irmão magistrado. Seu pai comprou os times que realizaram a final do Paulistão de 77. “Eram dois conjuntos acrílicos fantásticos, da Gulliver, o Corinthians com o goleiro Tobias, guardado até hoje e a Ponte Preta com Dicá e Cia”.
Concomitantemente aos Gulliver vieram os Brianezi com as mágicas caixinhas azuis e palheta colorida. “Ainda temos o Clube do Remo/PA, comprado com amor e carinho pelo meu pai, com sua palheta e bolinha azul da Brianezi produzido em 1977. Esses times sempre foram os melhores na mesa e os Gulliver começaram a perder força em tais torneios ”, lembra.
2011: Depressão e a volta do Hobby
Num dos momentos mais complicados na vida de Bucci, após ver algumas revistas falirem na crise do jornalismo editorial, o paulistano resolve criar um blog, intitulado ‘Botões para Sempre’, contando a História do Futmesa. “Até então não havia nada parecido na Internet. O máximo que encontrávamos era o Wikipedia com informações totalmente sem credibilidade”.
O jornalista começou colocando sua coleção, quando se deparou com a ira de outros colecionadores invejosos. “Fui colocando cartelas que iam chegando de Gente do Bem, sobretudo do saudoso Alessandro di Caprio, do Tribuna do Botão, e da Gulliver, do José Oliveira, amante do Futebol Clássico. E ao mesmo tempo alguns cobra-criadas de coleção de botões me criticaram que outros colecionadores iriam ter simples cópia”, reclama Bucci.
Período de compras e decepções com colecionadores mentirosos
Até hoje o jornalista adquire itens, sempre contando com a confiança que ele tem em poucas pessoas, mas são justamente ‘tais pessoas que precisamos acreditar’, pois o mercado não é confiável, segundo ele.
A ganância e o dinheiro são mais fortes que uma amizade. “Sabe aquele papo de amigos uma coisa, e negócios, outra? Comigo não rola. Ou é amigo, ou é ganancioso, quem não seguir a minha linha, eu corto”.
Amizades com colecionadores segue o mesmo ritmo de pensamento, segundo o jornalista. “Quase desisti em 2015 por uma traição de um ‘falso’ amigo. O cidadão compra 17 seleções da Brianezi, indicados por uma fonte minha do Rio Grande do Sul. O que não sabia é que o gaúcho morava em SP. Em dois dias, o cidadão compra tudo, e as que eram prometidas para eu comprar, passa a um padrinho de casamento, do RJ, que mexe em plataforma com botões inflacionados até a fuça” revela.
Isso machucou demais o jornalista, que relata: “Não consigo perdoar sacanagem, muito menos traição. A revolta é imensa e muitos precisam saber de uma coisa, quem tem muito produto de botão, mais te pisa, e mais te engana. Olho vivo em pessoas que de vez em quando saem na TV, dando uma de santinho, mas no final agem como Judas”.
O jornalista conta que de 14 seleções que eram para ser compradas, conseguiu que ele (o traidor) deixasse apenas 2 na portaria. “E foi com muito custo. Precisei esculhambar e mostrar fotos. A casa caiu. E mesmo assim, até hoje não ganhei uma desculpa. Até o goleiro que era para ter dado, me roubou”, analisa.
Foram 07 meses esperando a recompensa, até que o jornalista não aguentou: “Chega uma hora que você precisa se expor até seu último limite. No dia que fiz isso não me arrependi. Faria de novo com qualquer um”.
Pior, ainda conta o jornalista, que ele não foi apenas uma vítima. 'Tenho relatos aqui absurdos, guardado a sete chaves de coleções originais que serviram para fazer cópias a um outro colecionador, de renome, que simplesmente pegou as carinhas originais e devolveu às cópias para a pessoa que o emprestou". Para Bucci isso seria caso de cadeia; "Se eu fosse delegado ou policial fazia um BO', conta.
Peças desviadas por atravessadores e leiloeiros
Um dos motivos mais perversos que quase o jornalista parou de colecionar, é ter que se misturar com pessoas sem escrúpulos e que 'mexem' ou se intitulam que 'trabalham' com brinquedos antigos. “Aqui em SP e no Rio as pessoas são escoladas. Uns cobra-criadas, que só de olhar a gente percebe a cara de malandro. Muitas vezes é preferível você comprar de uma pessoa que nunca viu na vida, em Santa Catarina, do que cair no risco, de alguém te inflacionar nesses locais."
O jornalista revela as fontes de comerciantes sanguessugas: Feiras de antiguidade, galpões e sobretudo doações que são feitas todos os dias em bazares de igrejas e instituições católicas e espíritas. “Até hoje guardo com carinho uma caixa de 3 KG lotada de Brianezi, que encontrei numa creche de minha saudosa tia. No dia que comprei, uma pessoa apareceu para garimpar e olhou feio que ficou comigo e não com ele, pois ele ia ‘assassinar nos valores”. Paguei 60,00 e poderia ter dado mais, conta.
Boa parte do material anunciado em leilões e em sites de compras vem desses locais. "Eles têm Zap de todos os garimpeiros de bazares, Muitos chegam com sacos lotados de botões e ganham uma miséria. No final quem lucra é o que anuncia ou leiloa", conta.
Exclusividade
Leiloeiros sabem o nome da Cartela ainda no primeiro lance
Bucci revela com exclusividade, que todos os leiloeiros que 'trabalham' em tais plataformas leiloeiras sabem desde o primeiro lance que o cidadão dá nos Leilões. "A minha cartela 'Ricardo' aparece logo na abertura do primeiro lance, como contou um amigo leiloeiro, que este é um dos poucos que mexem com isso de forma digna". Alguns possuem contas duplas, e quando 'sacam' o nome, o leilão pode se estender por segundos ou minutos a mais. "Mês passado e quando passa de 1 mil, geralmente emperra o martelo do leilão, cheguei a ver mais de 8 vezes, dou-lhe uma, dou-lhe duas, justamente pois meu nome estava exposto ao dono do produto", revela.
Guerra de produtos e vendas com 'amiguinhos' e 'panelinhas'
O jornalista conta que desde 2011 se depara com panelinhas e falsas amizades entre colecionadores e comerciantes. “Alguns colecionam e revendem mais caro, de forma proposital. Um lixo de um botão perolado, tem cidadão que pede 3 mil num conjunto completo e sem goleiro. Um absurdo, não pagaria nem 100,00 nisso”, revela.
Ele conta que ultimamente tais comerciantes procuram leilões para faturar em cima de desesperados.
“Os preços que estes leiloeiros pagam em cada item chega a ser grotesco. Muitas vezes dão desculpas 'esfarrapadas' de estarem consignados. No final tem colecionador que dá mais de um salário para conseguir o item. Antes até participava, mas comecei a ficar com nojo de dar dinheiro assim toda hora, prefiro manter uma outra linha e não sustentá-los mais. No final eles riem da briga de A x B e debocham que um ganhou dando muito e outro não ganhou.
E revela: “alguns têm a cara de pau de mentir que vai mandar Sedex (eu pagava Sedex só que em duas vezes me mandaram PAC, pegando dinheiro a mais, até nisso temos que passar nessas plataformas leiloeiras”, conta.
Um amigo de Minas perdeu mais de 12 mil reais só em correios. “Sacanagem das grandes, toda vez me empurravam fretes abusivos nesses leilões”, conta o amigo do jornalista.
Gulliver Carinhas e Brianezi: suas maiores paixões
Bucci revela que não tem medo de falar a verdade. “Hoje a coleção ganhou corpo, mas nunca foi fácil comprar um item colecionável e raro.
"Penso que 1.500 jogos antigos aonde cheguei, foi muito por conta de minha insistência, pois no mercado existem atravessadores, tanto quem coleciona, como quem vende."
O jornalista salienta que rede social virou uma espécie de 'especulação' e fofocas. ‘Há grupos de todas as marcas de botões, uma delas da Brianezi, cujos administradores e moderadores me bloquearam sem antes dizer o motivo. Não preciso ficar colocando fotos de botões para pessoas que não vão com a sua cara, se eu tenho algum nojo da vida, é de pessoa que te fala mal pelas costas. Só que em rede social eles falam pela frente e por de trás. E tentam, tentam atrapalhar suas compras, mesmo após o item ser comprado. Chega a ser revoltante”, conta.
"Desejo de coração, que muitos não passam o que passei, e abram os olhos, pois a realidade é perigosa. Não vejo muito sentido em completar coleções, a que mais queria era a Gulliver de carinhas que consegui todos os 27 jogos originais".
A outra marca focada pelo jornalista que são os Brianezi flexíveis, Bucci conta que essa coleção é a mais complicada, pois vendia-se e distribuíam-se mais times grandes no mercado. Hoje passei de 60 por cento do catálogo, mas te juro que um outro a mais não fará diferença. Uma que chegar em 100 por cento, não chegará nunca, pois existiam times até fora de catálogo. “Estou feliz com que tenho e você pode cair numa bola de neve e ficar dando dinheiro a rodo para pessoas que no final, riem de sua cara. Já saiu mais de 40 mil reais investidos aqui, que deveriam ser pago nem metade disso, muito por conta de querer um item. Hoje preciso pensar, vale a pena mesmo?”
Matéria publicada no Jornal - JDC
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Julho 2022