Digitalizado de A
Noite (26-09-30) por Claudio Falcão
BOTÕES PARA SEMPRE PUBLICA MAIS DOCUMENTOS HISTÓRICOS SOBRE A ORIGEM DE NOSSA ETERNA BRINCADEIRA DE CRIANÇA no Brasil
Geraldo Cardoso Décourt nasceu em Campinas, a 14 de Fevereiro de 1911, e faleceu a 27 de Maio de
1998, tendo sido pintor, compositor, ator e, sobretudo, o inventor do futebol
de mesa, razão pela qual se tornou conhecido em todo o país.
Considerado
um dos primeiros pintores abstracionistas do Brasil, Geraldo Décourt foi
premiado no Salão Paulista de Arte Moderna com uma medalha de bronze (1961),
uma medalha de prata (1962) e o Prêmio Aquisição (1963). Também participou em
nove filmes e foi autor da letra e da música do Hino do Botonista, em 1982.
A dedicação ao ‘botonismo’ durante toda a sua vida
acabou por determinar a oficialização do dia do seu nascimento como o ‘Dia do
Botonista’, instituído pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em 2001,
“Lei Nº 10.833, de 2 de julho de 2001
Institui o “Dia do Botonista”
O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO:
Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e
eu promulgo a seguinte lei:
Artigo 1º – Fica instituído o “Dia do Botonista”, a ser comemorado, anualmente,
no dia 14 de fevereiro.
Palácio dos Bandeirantes, 2 de julho de 2001.
GERALDO ALCKMIN”
O ‘Papa do Botonismo’ começou por jogar com botões
de cueca e depois com botões de calça do uniforme escolar, surgindo daí o jogo
de botões que haveria de se consagrar em todo o país.
Digitalizado de A Noite (27-12-30) por Claudio Falcão
Origem
Dois jogos podem ter originado o futebol de mesa: o
‘jogo da pulga’ e o jogo das ‘três tampinhas de garrafa’.
O jogo da pulga, muito praticado na Europa,
consistia em pressionar uma ficha contra outra, fazendo esta saltar e acertar
um alvo – o gol – que podia ser um recipiente de vidro, madeira, plástico ou
papelão sobre uma superfície lisa coberta por um tecido. O Príncipe Charles foi
um dos maiores jogadores do seu tempo. O jogo das três tampinhas de garrafa o
dedo da mão fazia uma tampinha passar entre duas outras, por três vezes, sem
esbarrar nas demais, até chegar ao seu alvo – o gol.
Mas o futebol foi o grande inspirador para a
criação do futebol de mesa: botões de qualquer tipo de roupa, casacos e
camisas, foram as primeiras peças utilizadas. Os botões maiores eram zagueiros
e menores eram atacantes. Jogava-se nas calçadas, riscava-se com giz o desenho
do campo, mas o problema do não deslizamento levou o jogo para pisos de
cerâmica ou mármore, até se chegar às mesas.
O material utilizado para confecção das mesas hoje
é chamado de aglomerado e os botões passaram a ser feitos de coco, tampas de
relógio, osso, plástico, fichas de pôquer, galalite, até se chegar ao acrílico
ou madrepérola sob medida.
Os goleiros no passado sempre foram improvisados
com caixas de fósforo nas quais eram colocados materiais pesados (barro,
chumbo, pilhas…). Posteriormente cobria-se o goleiro com fitas crepes ou
isolantes, que atualmente também é feito com o mesmo material utilizado nos
botões.
As traves utilizavam madeira e, atualmente, utiliza-se também o arame feito de
ferro galvanizado, pintado de branco. As redes são feitas de filó. As palhetas
passaram a ser as fichas de póquer e são feitas de acrílico ou madrepérola. A
bola, inicialmente um botão mais pequeno, evoluiu para materiais de feltro ou
plástico sob medida, também de acordo com cada regra, podendo ser esféricas ou
achatadas.
No Brasil
Por volta de 1929, com dezenove anos de idade, Décourt deu ao jogo o nome de
‘Celotex’, que era o material usado para a confeção das mesas, e lançou o
primeiro livro de regras, tornando-se também
bicampeão carioca de futebol de mesa em 1929 e 1930.
Décourt divulgou e organizou torneios e eventos de
futebol de mesa em diversos estados brasileiros, popularizando o esporte. Criou
clubes e soube administrá-los, semeando entre os que rodeavam o companheirismo.
Em 1975 fundou o ‘Botunice’ e em julho de 1982 criou o Hino do Botonista.
Entretanto, a designação ‘Celotex’ foi substituída
por ‘Futebol de Mesa’ e as regras foram mudadas. Na sua autobiografia
intitulada ‘Aconteceu, sim’, publicada em 1987, Décourt reservou um capítulo
exclusivo ao futebol de mesa, que foi reconhecido como esporte pelo CND desde
1987 e praticado em todo o país.
Regra de Décourt
A primeira regra de futebol de mesa escrita por
Geraldo Décourt foi noticiada pelo jornal ‘A Noite Esportiva’ em 1930 (e
posteriormente aprimorada):
“O Football Celotex é um sport de mesa, no qual,
em cada jogo, tomam parte dois amadores, que por sua vez representam dois teams
formados por onze botões, assim distribuídos: um guardião, dois zagueiros, três
médios e cinco deanteiros.
Como se vê, o número de botões é idêntico ao número de players do Football
Association. Para ser iniciado cada match é necessário que os vinte e dois
botões estejam nas respectivas posições em mesa e, então, o desfavorecido pelo
“toss” dará o “kick-off”, com o centro avante, o qual estenderá um passe para
um dos lados, onde um outro botão do mesmo team impulsionará a bola, dando
assim início ao jogo.
Como se vê, enquanto um segundo botão do team
favorecido com a saída inicial não tocar na bola, não valerá goal. Procedida a
saída, o outro amador, chamado de B, jogará com um de seus botões uma vez e
assim, sucessivamente, um de cada vez até que seja registrada alguma falta. A
única ocasião em que cada amador poderá jogar duas vezes seguidas é, pois, no
momento da saída do centro. Depois de cada goal a bola deverá ser colocada no
centro da mesa, e o team que tiver sido vasado dará a saída. No Football
Celotex considera-se foul quando um botão do team A roçar noutro do team B, sem
que antes tenha “tocado” na bola.
Considera-se hands (coisa raríssima) quando um
botão do team A ficar sobre a bola. Neste caso, se for o guardião o infractor
proceder-se-á ordenando um “carring”, valendo goal direto. No foul e no hands
valem goals directos, e se as respectivas penalidades forem consignadas dentro
da área perigosa ordena-se um penalty. O “out-ball” é batido no lugar onde sair
a bola, sendo que para ser valido um goal, procedente desta pena, é preciso que
a bola toque em qualquer outro botão, antes de entrar na linha de goal. Nas
saídas de goal ou, melhor, nos goal kicks, não será consignado o ponto
proveniente da referida falta diretamente, mas sim depois que a bola tenha sido
tocada propositalmente. Sempre que houver qualquer falta, os botões poderão ser
removidos ou colocados pelas mãos dos patrões em lugares da mesa que este
julguem convenientes. Os botões-guardiões só impulsionam a bola nos goal-kicks,
e fora disso eles poderão ser colocados pelos patrões em qualquer momento da
partida, mas antes que seja desferido o tiro a goal e não depois do tiro ser
dado.
O tamanho oficial da mesa é de 1m,20 de largura por
2m,40 de comprimento. Essas medidas são de dentro do campo, sendo que a parte
que ficar externando a marcação quanto maior for melhor será. As mesas devem
ser feitas com um material americano feito das fibras do bagaço da
cana-de-açúcar ou, então, de madeira coberta com um pano verde, próprio para
cobrir mesas de jogo. Aconselho estes dois exemplos pelo fato de ser necessário
que a superfície não seja escorregadia.”
Pesquisa de Rui Moura
(editor do Mundo Botafogo) com a participação de Claudio Falcão (colaborador
eventual do blogue); Fontes: Geraldo Décourt: Aconteceu, Sim!
(autobiografia); Ubirajara Bueno: Botonismo; Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.