Botões para Sempre
traz uma linda matéria (fonte do site do 'Jornal Brasil') para os
amantes do colecionismo. Antes de mais nada, parabéns Sra. Margarida,
primeiro por manter a memória sempre viva do futebol. E, segundo, por
não vender de jeito nenhum para qualquer 'URUBU', 'ABUTRE', 'RATO',
"PIRATA" e põe no meio também os COLECIONADORES QUE SÃO REVENDEDORES AO
MESMO TEMPO de raridades e peças antigas e/ou os
comerciantes/revendedores em geral, que adorariam comprar sua extensa
coleção por preço de 'banana' para depois 'desmembrar' tudo por MILHÕES
em sites de compra, vulgo 'Mercado Negro' do colecionismo.
Chorem 'abutres' e 'atravessadores', que os amados 600 jogos originais/antigos de botões, do site 'Botões para Sempre', vocês também não vão ver nem poeira deles. Nunca!
Conheça a professora, nadadora, remadora e colecionadora de
91 anos que batizou o parque aquático da UFRJ e que vai ajudar a dar
consistência ao Museu Olímpico
"VENDER JAMAIS" - Sra. Margarida
Dona Margarida Thereza Nunes da Cunha Menezes é professora
emérita da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Dona Margarida foi nadadora, jogadora de vôlei e se envolveu com vários outros
esportes, como remo e atletismo. Dona Margarida foi uma das pioneiras do nado sincronizado
no Brasil. Dona Margarida esteve no Maracanã na final da Copa de 1950. Dona
Margarida e Botafogo se misturam. Dona Margarida é pura riqueza de histórias,
sobretudo ligadas ao esporte.
E, se não bastasse, Dona Margarida é exímia colecionadora
“É maluquice”. Assim ela resumiu o que iria apresentar durante algumas horas
em uma tarde de sexta-feira em Copacabana, no Rio de Janeiro. Alagoana de
nascimento e carioca por insistência e paixão, Margarida é colecionadora de
tudo. Nesse “tudo” cabem surpresinhas do chocolate Kinder Ovo, objetos da
Disney, broches de campanhas políticas, chaveiros, canecas, flâmulas,
marcadores de livros, agendas e, sobretudo, pins (mais de 20 mil) e álbuns de
figurinhas (três mil).
Ao percorrer corredores repletos de quadros envidraçados, ao abrir gavetas
impecavelmente organizadas e, sobretudo, ao ouvir as histórias por trás de cada
objeto, é possível conhecer as várias faces de uma senhora de 91 anos que
impressiona pela lucidez. “Tudo o que falo, provo. Gente velha não pode
só dizer, tem de provar”, diz.
Pins e moedas
Carioca por insistência
Nas paredes estão várias das homenagens aos mais de 50 anos dedicados ao
serviço público. Margarida deixou Maceió aos dezoito anos. Em 1943, passou em
um concurso, ganhou bolsa e foi para o Rio para estudar na Escola Nacional de
Educação Física e Desportos da então Universidade do Brasil, que veio a se
transformar na UFRJ. Terminado o curso, teria que voltar para o Nordeste, e ela não queria. A
forma encontrada para ficar na então capital federal foi pela via acadêmica.
“Consegui fazer um curso de especialização em dança e, paralelamente, fiz o
curso de técnico desportivo em natação e voleibol. Quando terminei, fui
indicada para ser professora da escola”, conta.
Um pin controverso
Ela dava aulas e competia. Entre as coleções de Margarida, estão as dezenas
de medalhas que conquistou em campeonatos de natação e vôlei, mas também de
outros esportes. A natação era a grande paixão e a inspiração sempre esteve ao
lado: Margarida foi aluna e assistente de uma das principais nadadoras do
Brasil, Maria Lenk.
Entre os mais inusitados objetos da coleção, estão presentes da antiga
mestra. “A professora Maria Lenk me deu dois pins com a suástica do Hitler. Ele
que deu para ela nas Olimpíadas de Berlim, em 1936. Não me orgulho disso, mas
acho muito interessante”, explica.
Margarida é de um tempo em que o nado sincronizado se chamava balé aquático.
Até por isso, acha que a dança tem sido esquecida atualmente em nome das
acrobacias.
Foto: Miriam Jeske
Balé Aquático
Também foi Maria Lenk quem apresentou à professora Margarida o nado
sincronizado. “Caiu dentro da minha alma. Era a forma de unir natação e
dança”, conta. Margarida introduziu a modalidade na grade curricular da Escola
de Educação Física. Foi a primeira do país.
“Na terceira série do curso, os rapazes tinham polo e as meninas tinham o
balé aquático, que era o antigo nome da natação sincronizada. As meninas
adoraram”, relembra. Pins que representam o esporte não faltam na
coleção. Ex-alunas que competiam e competem ou que foram e são árbitras do
esporte sempre trazem um presentinho para a colecionadora.
A nova piscina olímpica do Parque Aquático da Escola de Educação Física da
UFRJ foi batizada, na semana passada, com o nome de Dona Margarida. A justa
homenagem emocionou a professora, aposentada da UFRJ há 22 anos. Mesmo longe da
escola, ela continua acompanhando as competições do nado sincronizado. “Hoje o
nado está muito acrobático, é preciso reduzir a acrobacia. Temos que preservar
a harmonia, a expressão do sentimento da música”, opina.
A Hollandeza, o primeiro álbum que Margarida quis colecionar, de 1934.
Faltou grana na época, mas ela deu um jeito de comprar uma versão completa anos
depois.
Foto: Miriam Jeske
A Hollandeza
O espírito colecionador acompanha Margarida desde a infância, quando não
tinha dinheiro para comprar figurinhas, mas improvisava álbuns recortando e
colando manequins de revistas de costura em caderninhos de páginas rosas. A
mania de colecionar ganhou fôlego na UFRJ. Com o que sobrava da bolsa, comprava
e completava álbuns.
Se dependesse da vontade dela, o primeiro dos álbuns de sua vida teria sido
“A Hollandeza”, de 1934. Ainda criança, Margarida adoraria ter juntado todas as
figurinhas daquela marca de balas. Faltou dinheiro, mas ela conseguiu comprar
esse álbum anos depois de um colecionador gaúcho. É um dos preferidos da
coleção.
As Copas do Mundo
Dos mais de três mil álbuns– que vão das figurinhas de bala até os modernos
stickers do Harry Potter – muito são de futebol. O esporte também predomina
entre os pins e outros objetos que estão nos corredores. Uma das paredes
é dedicada ao futebol do velho continente. Os itens expostos são relacionados a
Eurocopas e a edições da Liga dos Campeões. “Tem Copa da Uefa também”,
acrescenta Dona Margarida.
Mas nada que se compare à riqueza de objetos ligados a Copas do Mundo. O
primeiro Mundial, o de 1930 no Uruguai, está representado na casa da
colecionadora. A Copa de 1950, cuja final Dona Margarida testemunhou no
Maracanã, também está lá. Impossível não parar diante do quadro dedicado ao
título de 1958: as caixinhas de fósforo com cada um dos jogadores da equipe
vencedora estão devidamente conservadas.
Saindo do terreno “seleções” e voltando ao assunto “clubes”, há pins,
escudos, flâmulas de times de norte a sul do país e do globo. A variedade
alimenta a coleção, mas o coração de Margarida tem formato único, de estrela
solitária.
De atleta a sócia benemérita, o Botafogo é sua paixão eterna. Para ela, Pelé
pode até ter sido o mais bem sucedido, mas Garrincha foi o melhor de todos os
tempos.
Fotos: Miriam Jeske
Estrela solitária
Margarida é sócia grande benemérita e atleta emérita do Botafogo, clube que
defendeu por anos. A relação já seria forte por conta disso, mas a paixão pelo
futebol faz o Botafogo ter espaço ainda mais especial na vida dela. Quadros e
mais quadros são dedicados ao clube, que também tem uma grande estante só para
ele.
Entre as fotos, um craque de pernas tortas se destaca. “O Botafogo foi o
clube que mais contribuiu com a Seleção Brasileira. E o Garrincha era o melhor
do mundo. Era tão extraordinário no molejo dele! O que ele fazia, ninguém faz.
Para mim, o Pelé foi o jogador mais bem sucedido, mas o melhor do mundo foi o
Garrinha”, afirma.
Dos tempos mais recentes, guarda com carinho a atuação de Túlio Maravilha,
atacante que liderou o Botafogo na conquista do Campeonato Brasileiro de
1995. “Eu adorava o Túlio, mas ele se envaideceu demais”, pondera.
Objeto de destaque na coleção, o painel com o ursinho Misha, que ganhou de
um colega de faculdade após os Jogos de 1980, é símbolo do carinho dos amigos e
de uma cerimônia de encerramento inesquecível.
Foto: Miriam
Jeske
Choro de Misha
Não bastassem as relíquias do futebol, a coleção de Dona Margarida também
surpreende pela quantidade de objetos que fazem referência aos Jogos Olímpicos.
Os broches e pins relembram esportes, países participantes, mascotes e
momentos marcantes. Entre todos, a colecionadora não titubeia ao eleger o
objeto mais especial.
“O mais maravilhoso é este quadro dos Jogos de Moscou 1980, que tem um pin
de cada esporte olímpico. Quem trouxe pra mim foi um roupeiro da Escola de
Educação Física que estava com a seleção de basquete. Do jeito que ele trouxe,
está aí”, conta.
O valor do presente é ainda maior porque a abertura daquela Olimpíada é
inesquecível para Dona Margarida. “Tem valor efetivo e afetivo. Primeiro porque
um funcionário da escola se lembrou de trazer para mim, e outra coisa é porque
me lembra o ursinho chorando. Aquela cena foi a coisa mais linda que já
aconteceu”, diz, em referência ao Misha, mascote dos Jogos de Moscou. Na
cerimônia de encerramento dos Jogos, um mosaico no estádio simulou uma lágrima
do ursinho pelo fim do evento.
Toda a intensidade de Margarida na inauguração do parque aquático da UFRJ:
fez questão de ser a primeira a se molhar na piscina que leva seu nome.
Foto: Miriam Jeske
Maluca sanidade
Dona Margarida teve que parar de dar aulas a contragosto, quando completou
70 anos, em 1994. A
partir de então, colecionar virou a principal atividade, sempre contando com o
apoio de amigos, filhos de amigos e ex-alunos, que ajudam a conseguir mais
objetos e a organizar a coleção.
“Depois que fui expulsa da universidade, com 70 anos, colecionar, que era um
hobby, passou a ser forma de sobrevivência. Quando você não pode mais pular,
correr, nadar, tem que arranjar uma atividade”, diz.
Em todas essas décadas de coleção, um verbo jamais entrou em cena. “Eu
compro, dou e troco. Vender jamais”. E o Museu Olímpico que o Ministério do
Esporte pretende organizar após o Rio 2016 deve ser o destino de parte desse
patrimônio de valor inestimável.
“O ministro do Esporte (Ricardo Leyser) me disse que iam fazer um Museu
Olímpico, e um Museu Olímpico abrange muita modalidade esportiva, são poucas
que estão de fora. Quero doar para que as pessoas saibam que devemos guardar as
memórias”, explica.
Diante de tantos objetos, paixão e lucidez, é inevitável questionar Dona
Margarida quanto à palavra usada por ela para resumir a coleção. “A maluquice
não seria, na verdade, sanidade?” Dona Margarida reflete por alguns segundos.
“As duas coisas juntas”, reponde.