Copa de 1982

Copa de 1982
Lembranças da Copa do Mundo de 1982: veja o artigo que escrevi sobre o melhor mundial de todos os tempos

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

FC Anzhi Makhachkala - Daguestão - Rússia

Roberto Carlos, capitão da equipe

No 'lugar mais perigoso da Europa', Anzhi vira visita no Daguestão 

Clube ainda não tem previsão para elenco trocar Moscou por Makhachkala, mas garante que motivo é falta de estrutura, não segurança

Num lugar quase sem atrações e considerado o mais perigoso da Europa, turistas são raros e um estrangeiro chama a atenção logo no desembarque no aeroporto. Mas para quem não fala russo ou um dos 30 idiomas do Daguestão, duas palavras são suficientes para se explicar e espalhar sorrisos na capital Makhachkala: futebol e Anzhi (cujo nome soa como “Anji”). O clube de Roberto Carlos e Samuel Eto'o fez a cidade transformar-se em mais do que fonte de notícias ruins. Ao mesmo tempo, por causa deles, o time mudou-se para Moscou. O Anzhi nunca foi menos daguestanês do que agora que ficou famoso. Uma contradição que clube e torcedores parecem concordar que é temporária. Ainda que ninguém saiba responder até quando.
– A cidade ainda não está preparada para receber os jogadores. Falta muita coisa, nós sabemos disso - diz Murad, um russo que se mudou para a Espanha há oito anos e voltou a Makhachkala para visitar a família e "ver o Anzhi jogar", como ele faz questão de acrescentar.
Murad vive em Getafe, na Grande Madri. Dizer que ele fez o caminho inverso de Roberto Carlos, que passou 11 anos na capital espanhola a serviço do Real Madrid, é motivo para enchê-lo de orgulho.
– Quando o Roberto Carlos acertou com o Anzhi meus vizinhos na Espanha perguntavam: "Não é de lá que você veio?". Agora todos sabem onde fica o Daguestão.
Criado em 1991, mesmo ano do fim da União Soviética, o FC Anzhi tem como grande feito o vice-campeonato da Copa da Rússia em 2001 e até um ano atrás disputava o Campeonato Russo com a missão de evitar o rebaixamento. Foi então que o homem mais rico do Daguestão, Suleiman Kerimov, de 45 anos, comprou o Anzhi com planos de transformá-lo no time mais poderoso da Rússia. De acordo com a revista Forbes, que anualmente publica a lista das pessoas mais ricas do planeta, Kerimov é o 118º colocado, com uma fortuna de mais de R$ 14 bilhões. Seus negócios já variaram de aviação e construção civil até petróleo e gás. Mas o investimento no Anzhi vai além do futebol.

 Estátua de Lênin na entrada de um parque em Makhachkala, no Daguestão (Foto: Rafael Maranhão)

Localizado às margens do Mar Cáspio no norte do Caucáso, o Daguestão tem 2,6 milhões de habitantes e é uma das áreas mais pobres da Rússia. Recentemente, foi apontado pela agência de notícias britânica BBC como o "lugar mais perigoso da Europa". Os frequentes atentados de fundamentalistas islâmicos que querem a separação da região são parte do problema. Os terroristas não têm dificuldade em recrutar jovens revoltados com a corrupção, falta de oportunidades e o envolvimento de autoridades com o crime organizado. Para piorar, as forças de segurança que deveriam combater o crime são acusadas por torturas, desaparecimentos e execuções.
Suleiman Kerimov é senador pelo Rússia Unida, partido do primeiro ministro e ex-presidente Vladimir Putin, que deve voltar à presidência do país nas eleições de março. Oligarcas alinhados com o governo – ou em busca de evitar problemas com ele – costumam investir em áreas menos favorecidas do país. O novo Anzhi é parte do projeto de modernizar o Daguestão e combater o extremismo.

– O futebol pode mudar a imagem da nossa região, pode transformar a cabeça das pessoas e mostrar a elas que a vida também irá mudar no futuro - afirmou o diretor geral do Anzhi, German Chistyakov, em entrevista a jornalistas ingleses levados a Makhachkala no fim de outubro a convite do clube.
Quando Eto'o foi contratado, em agosto, a organização não-governamental Human Rights Watch criticou os investimentos pesados no futebol dizendo que eles deveriam ser acompanhados por esforços parecidos em outras áreas. Sobretudo, segundo a ONG, o combate aos abusos cometidos pelas autoridades e forças de segurança no Daguestão.
Encontrar pessoas portando armas em Makhachkala não é tarefa das mais complicadas. Uma pistola custa menos de R$ 40 em lojas do centro da cidade. Alguns dizem que trata-se de uma antiga tradição do Cáucaso. Outros, que é para se proteger de criminosos.
– Como vocês chamam no Brasil aquela área sem segurança e com muitos problemas onde vivem as pessoas mais pobres? Favela, certo? Pois nós somos a favela da Rússia. Muita gente aqui ainda acha que precisa de uma arma para se defender – diz um jornalista local, que pediu para não ser identificado.
Apesar da insegurança na região, a versão oficial do Anzhi é a de que os jogadores vivem e treinam em Moscou por causa da falta de estrutura adequada para recebê-los na capital do Daguestão.
– Ainda não sabemos quando vamos nos mudar, mas as coisas em Makhachkala estão se transformando tão rapidamente que pode ser mais rápido do que se imagina. Mas temos tudo o que precisamos em Moscou e já nos acostumamos com a situação de viajar para jogar "em casa" – afirma Roberto Carlos
Suleiman Kerimov costuma estar presente às partidas do Anzhi em Makhachkala, mas poucos conseguem vê-lo já que ele se refugia no prédio localizado bem na direção do centro do gramado, uma espécie de área vip do estádio do Dínamo, com vidros fumê e seguranças à porta. Quando uma foto do oligarca aparece no telão, a torcida responde como se fosse um gol em final de campeonato.

Para os fãs do Anzhi na porta do estádio, as visitas do time da casa à cidade uma vez a cada duas semanas já não causam tanta estranheza.
– No dia em que anunciaram a contratação de Roberto Carlos as pessoas se olhavam como que perguntando: "é verdade mesmo?". Há quem ache estranho que os jogadores vivam em Moscou, talvez não sintam que a equipe seja tão local como antes, mas você não vai encontrar muitos que admitam isso. Talvez seja o preço a pagar para ter grandes craques aqui – diz Mohammed, com cachecol e bandeira do Anzhi, se espremendo para passar pelo detector de metais que tenta impedir a entrada de armas no estádio.
fonte: Globo Esporte

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