Botões para Sempre conheceu pessoalmente e entrevistou o empresário paulistano Alexandre Badolato, 46 anos, que é o maior colecionador de carros antigos da marca Dodge do país. Nesta reportagem exclusiva ao blog, ele revive o seu passado nostálgico como fabricante de botões no estilo 'tampa', que eram impecáveis e feitos da mais alta qualidade
Por Ricardo Bucci, jornalista, editor e idealizador do site 'Botões para Sempre'
Badolato e seus amados Dodge: "Minha família é metade da Calábria e metade da Ilha da Sicília. O máximo que eu poderia ser era 'tiffosi' do Palermo, mas como eu me sinto mais 'oriundi' do que italiano, sou palmeirense mesmo (rs)."
Alexandre Badolato, empresário e fundador do Museu do Dodge
Foto: Revista Quatro Rodas/Abril
Alexandre Badolato, empresário e fundador do Museu do Dodge
Foto: Revista Quatro Rodas/Abril
Raríssimo Dodge Charger LS - preto - 1974: "Esse carro finalizamos a restauração e foi premiado no mês passado no evento de Carros Antigos em Águas de Lindóia/SP".
O prédio do Museu do DODGE, inaugurado em 2010
O prédio do Museu do DODGE, inaugurado em 2010
"Tenho muito carinho pelos meus antigos botões, porque acho que foi muito empreendedor da minha parte aprender e, efetivamente, fabricar e comercializar os exemplares com apenas 15-16 anos de idade"
Reparem o número de telefone estampado nos goleirinhos, ainda com poucos algarismos, nos anos 80. Relíquia e nostalgia pura em 'Botões para Sempre'
Na lateral da caixa: o ano de 1986 com o telefone para encomendas. Saudades
Tudo começou na infância. O pequeno Badolato já curtia o 'velho' e amado Futebol de Botão. Naqueles idos dos anos 70 chamávamos ainda de 'jogo de botão', pois ainda não era considerado esporte, somente em 1988, pelo então Conselho Nacional de Desportos (CND). Por volta de 1978, embalado com a proximidade da Copa da Argentina, o seu gosto pela lúdica brincadeira ganhou força total. "Meu pai trouxe para casa dois times originais de celulóides da fábrica Brianezi em 50mm: uma seleção da Argentina de uma cor só e uma seleção 'canarinho' CBD com faixas circulares. Este presente me encantou demais", relembra. A Argentina não se sabe até hoje como desapareceu de dentro de sua casa. Já a seleção brasileira mandou encomendar diretamente da Brianezi um time com 50 jogadores. "Fiz um negócio maluco! Sabendo que os jogadores eram melhores ou piores aleatoriamente, comprei da fábrica, por uma pequena fortuna, mais 39 botões, numerados de 12 a 50. Portanto, eu tinha um elenco formidável de 49 botões para escalar", lembra.
A seleção CBD feita pela Brianezi, da coleção particular de Badolato.
Do jeito que está para mim é inédito!
A partir daí, os botões se tornaram uma verdadeira terapia na vida de Badolato. "Era o dia todo pensando nisso, jogando, indo nas lojas Bayard dos Shoppings Iguatemi e Ibirapuera para revirar as pilhas lotadas dos Brianezi que era, seguramente, a marca que mais gostava", conta com saudades. O colecionador recorda também que existia uma loja de nome 'Rosa Negra Esportes', em São Caetano do Sul/SP, que, de vez em quando, se deparava com outros botões de celulóides expostos nas prateleiras.
Perguntei para o colecionador se ele tem admiração por times específicos. Ele fez questão de acrescentar que nunca gostou de times comuns e populares. Tinha afeição pelas seleções menos afamadas e de times mais inexpressivos, que hoje são chamados de alternativos, principalmente do futebol brasileiro.
O nascimento dos primeiros 'guerreiros'
Um quadrado de acrílico da mais alta qualidade
Até que em 1985, com apenas 15 anos de idade, decidiu fabricar seus primeiros brinquedos de futebol de mesa, os nossos craques, verdadeiros aguerridos em miniatura. "Meu avô tinha uma fábrica de produtos de acrílico chamada 'Acrimet'. Mostrei a ele os botões Brianezi e disse que precisava fazer 'tampas' idênticas da fábrica do Belenzinho, com a mesma curvatura", recorda. Assim passou o caso para um ferramenteiro expert chamado Benjamim. Com o seu acompanhamento, ele conseguiu fazer uma ferramenta com 'macho e fêmea'. O macho era torneado em madeira. Quadrados de acrílicos de altíssima qualidade eram cortados e colocados num forno e, quando o material amolecia, colocava na ferramenta e prensava um de cada vez. O resultado? Botões em acrílico termoformado com uma precisão incrível das melhores safras estampado no meio. Com um riscador ia desgastando o acrílico até o botão se desprender da rebarba. Após vinha a lixa d´água para dar acabamento. Pronto. Estava feito um botão Badolato da primeira geração, visualmente idêntico a uma peça da lendária Brianezi, no mesmo tamanho em 42mm, porém um pouco menos flexível e com um material muito mais transparente e, consequentemente, "mais bonito do que os de acetato de celulóide, que empenavam muito", comenta o fabricante. Ele salienta também que seus antigos botões tinham um acabamento sem similar pelo brilho que o acrílico dava às pinturas.
Penãrol (da segunda edição) com a Finlândia (primeira geração)Japão de 1986
Seleção romena de Badolato
O argentino Boca Jrs.
Com os botões viabilizados, procurou as listas amarelas e chegou a 'Cromocart', uma fábrica de decalcomanias que fornecia para a Brianezi, CRAK´S e Sportec. Comprou faixas, números e escudos. Não tinha o catálogo todo, contudo uma grande parte dele. Os goleiros eram feitos de acrílico de primeira linha, maciços, "nada das malfadadas caixas de plástico que a própria Brianezi aderiu tempos depois", comenta. Os botões eram lixados e o decalque aplicado. Depois a tinta esmalte vinha na parte de trás. "Um problema recorrente era a tinta penetrar por baixo do decalque. Resolvi isso aplicando uma fina camada de cola tenaz nos decalques para isolá-los da tinta. O acabamento ficou perfeito". Hoje, 31 anos depois, é justamente essa película de cola que escureceu um pouco.
O colecionador montou um catálogo numa cartolina plastificada com todas as opções e começou a vender no colégio em que estudava - o Pueri Domus -, da Rua Verbo Divino, em São Paulo. "Vendia tudo que conseguia fazer. Produzi muitos botões. Mas não tenho a ideia de quantas peças foram feitas, mas era comum ter que produzir cerca de 10 a 12 times por dia, no fundo da casa de minha mãe. Minhas mãos viviam em carne viva", brinca.
Foi neste local que tudo começou...
Os rivais uruguaios: Penãrol e Nacional, feitos por Badolato nos anos 80Detalhe dos Botões Badolato feitos no começo de fabricação, em 1985
"Bucci, como você adora seleções e times do 'velho' Leste Europeu, escolhi te presentear este, que, foi um dos primeiros times que fiz nos anos 80 da primeira geração de meus botões: a grande Iugoslávia, que lembrava muito a magia e o jeito de jogar da seleção brasileira"
E aqui a seleção perfilada antes da Copa de 1982
A seleção de Luxemburgo, segunda edição, presente do amigo Badolato para a coleção de 'Botões para Sempre'.
No mês que vem estreará nas minhas Eliminatórias da Europa. Que venha a Copa para Luxemburgo!
A segunda geração dos botões
Badolato fez uma segunda prensa, agora com 10 cavidades, que estampava dez botões, ou seja, um time de cada vez. Conseguiu fazer o molde mais alto para permitir que os botões fossem separados da placa de acrílico, não mais com o riscador, mas, sim, com uma serra de fita, facilitando o trabalho.
"Dessa vez, eu não copiei o perfil dos Brianezi, mas fiz os botões mais retos em cima, possibilitando uma marca registrada minha: os lixamentos extremos em alguns jogadores (normalmente os números 10), deixando-os extremamente baixos e possibilitando encobertas cirúrgicas", observa.
A seleção do Eire feita por Badolato. Esta sim, verde! Pois alguns fabricantes faziam erroneamente em cores vermelhas.
O extinto Água Verde, que depois virou o Pinheiros de Curitiba
O Mixto de CuiabáA seleção da Noruega
O Marília feito por Badolato com o mesmo processo da Brianezi, ou seja, com os decalques originais
...da Cromocart
Operário de Várzea Grande/MT
O lindo polonês Slask
A seleção do Iraque. Estes números eram típicos da Sportec, do Itaim Bibi
Clientes ilustres
Caio Ribeiro, ex-jogador e atual comentarista da TV Globo: um dos clientes nos saudosos anos 80 dos botões Badolato
Com a nova máquina que estampava os 10 botões de cada vez, a produção aumentou. Fez um programa para parceiros: cada dez pedidos que alguém trouxesse, ganhava um grátis. O ex-jogador do São Paulo Futebol Clube e da Internazionale de Milão, Caio Ribeiro, atual comentarista da TV Globo, estudava no colégio de Badolato e comprou vários times. "Cobrava caro meus botões de meus clientes. Com o lucro adquirido comprava mais peças de outros fabricantes, numa época sem internet. Organizei vários torneios de botão. Estávamos no segundo colegial, assim chamávamos naqueles idos. E muitos que tinham 'vergonha' de dizer que ainda jogavam botão começaram a se inscrever. O filho do narrador Silvio Luiz, este, um dos maiores ícones do jornalismo esportivo, participou de um deles, sendo que o próprio jornalista veio levá-lo em minha casa", atesta.
No final de 1986 chegara a hora de Badolato realizar um intercâmbio nos Estados Unidos. Ele levou alguns times na bagagem e fizeram algum sucesso. Quando voltou, em meados de 1987, até retomou as atividades. Após iniciou o curso de engenharia na USP e parou de fabricar os botões. "Algum tempo depois, por volta de 1988-89, voltei a ter vontade de jogar e já estava nos botões maciços de acrílico usinados, que tinha comprado do saudoso Guilherme Biscasse, que foi um dos fundadores da marca antiga CRAK´S, conta.
Federado na FPFM
Carteirinha de botonista na Federação
No final da década de 80 jogou no Clube Atlético Indiano e se federou na Federação Paulista de Futmesa (FPFM). Teve contato com botonistas famosos como os saudosos Della Torre e De Franco (o da caligrafia). "Eu jogava relativamente bem, mas eles eram de outro 'planeta'. Lembro-me do Torre. Nas partidas era frio como um ex-soviético, pois armava 15 ataques e convertia uns 14 gols. Uma precisão foram do comum", diz.
Badolato foi desanimando com os botões e, no final de 1989, já estava entrando de cabeça no hobby que pendura até hoje, que é sua coleção incrível de carros antigos. "Achando alguns 'restos' de fabricação na minha casa, resolvi doar para sua linda coleção, a SELEÇÃO DA IUGOSLÁVIA, DA PRIMEIRA GERAÇÃO E A SELEÇÃO DE LUXEMBURGO, DA SEGUNDA EDIÇÃO. Aliado, sobretudo, na leitura contagiante de seu fantástico blog 'Botões para Sempre', tantos anos depois me fez bater novamente uma nostalgia boa. Comprei recentemente uma mesa igual a sua, do fabricante Olliver, de Petrópolis/RJ, e estou curtindo o esporte com a mesma alegria de antigamente", concluiu Badolato.
Mesa de Badolato
Mesa de Badolato
"Achei em casa no 'resto da fábrica' uma medalha dos anos 80, contudo não me recordo ao certo de qual torneio. Lembro-me também que fui campeão de um campeonato com a seleção do Paraguai, da Brianezi"
Boa Bucci ! Essa história iria se perder ... valeu !
ResponderExcluirVocê merece. É para Sempre.
ResponderExcluirO que eu posso lhe dizer: Muito obrigado, de coração.
ps: 4.000 vistas desde quando foi postada e o número só aumenta.
Abraço fraterno.
Parabéns Mestre RB, parabéns Alexandre Badolato !!!
ResponderExcluirVocês conseguiram me emocionar aqui com esta fantástica entrevista !!!
Duas coisas que eu amo nessa vida são os jogos de botão e os carros antigos, principalmente os Dodges !!! Então o parabéns é duplo para o amigo Badolato, pelo trabalho e dedicação com as extraordinárias coleções de Dodges e de botões, e para o nobre amigo Ricardo Bucci pelo belíssimo trabalho na entrevista e divulgação desta belíssima história, bem como o trabalho e dedicação com a preservação e memória do eterno Futebol de Mesa !!!
Amigos, me recordo muito da citada Rosa Negra Esportes no Centro de São Caetano do Sul (SP), ficava na Rua Amazonas, no quarteirão entre a Avenida Goiás e a Rua Niterói, e eu tinha uma vontade imensa de comprar os times expostos na vitrine da loja que tinha um letreiro cor de rosa com a rosa negra (se não me falhe a memória a loja existe no mesmo endereço ainda e com o mesmo nome), mas meus pais não compravam pois tinham que pagar o financiamento de nossa casa que era pelo B.N.H. (Banco Nacional da Habitação), e o que restava era comprar os botões da Gulliver, Canindé, de banca de jornal, etc., que me fizeram e fazem ainda muito feliz em tê-los em minha vida...quantas saudades desse tempo, amigos !!! Me lembro como se fosse hoje do primeiro time (ou um dos primeiros) times de botão que meu pai me presenteou, era a Seleção da Espanha da Gulliver, isso no longínquo ano de 1979, 1980 !!!
Parabéns por tudo mais uma vez, amigos !!!
Badola relembrando hoje em vídeo !!!!
ResponderExcluirMuito legal!
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