Jornal Diário do Nordeste: 12/07/2015
Praticantes do famoso 'botão' tentam manter a tradição viva mesmo em constante concorrência com os jogos eletrônicos.
Grupo de cearenses costuma se reunir às segundas e quintas-feiras para reviver as emoções do futebol de mesa, no bairro Papicu, em Fortaleza (Foto: Thiago Gadelha)
Com tantos videogames, computadores e celulares de última geração nos dias atuais, parece tarefa difícil para um pai perguntar ao filho se ele quer ganhar de presente um jogo de botão. A brincadeira, que conquistou crianças, jovens e adultos até o início da década de 1990, luta a cada dia para manter a essência e sobreviver aos tempos modernos, nos quais os mais variados títulos virtuais dominam o mercado do entretenimento.
Difundido no Brasil a partir de 1930, o futebol de mesa, como é conhecido hoje, rapidamente se tornou popular e ganhou força pelo país. A facilidade em formar uma equipe, seja com simples botões de camisa ou até com vidros de relógios (as famosas capinhas ou tampinhas), moveu os fanáticos por futebol, que se inspiravam em craques consagrados de várias partes do mundo para formar seus esquadrões.
No Ceará, um grupo de aproximadamente 40 'botonistas' mantém viva a tradição dos encontros no meio e nos fins de semana para treinar e disputar competições. O toque na palheta, a arrumação da equipe na mesa e o trato dos 'atletas' fazem parte da rotina, que resiste ao tempo e principalmente à concorrência, um tanto desleal, dos games.
O representante comercial Rafael Moreira, 33, reconhece as dificuldades para realizar os torneios. "Não podemos fugir disso. A tecnologia realmente complicou muito a vida do futebol de mesa, já que as crianças ficam seduzidas pelo mundo virtual. É muito difícil. Temos que praticamente matar um leão a cada dia para que o futebol de mesa no Ceará continue funcionando".
O próprio Rafael foi vítima da era virtual. Quando criança, teve vários times de botões e corria de casa para jogar com os amigos. Enquanto isso, dividia seu tempo com partidas eletrônicas. "Tinha mais de 100 times. Meus presentes de aniversário sempre foram times de botão e meu pai viajava muito pelo Nordeste. Ele trazia de lembrança um time de cada região".
Deixou a brincadeira que mais gostava aos 13 anos e voltou a jogar somente em 2009, quando soube da existência de alguns torneios na Capital. Desde então, redescobriu a paixão pelos botões e não largou mais. "Sempre nos reunimos às segundas e quintas para treinar e definir datas de competições. As etapas acontecem geralmente nos fins de semana e a fidelidade da nossa turma continua boa", comemora Rafael, que preside a Federação de Futebol de Mesa do Ceará (Futmece).
'Veterano'
Um dos competidores que mais se destaca no Ceará é o servidor público Manoel Moura, 55. Considerado um dos mais experientes no Estado, com cerca de 30 anos de mesa, ele é o atual líder do ranking da Futmece. "Jogava com botões de roupas e bola de azulejo. Com o tempo fui me aperfeiçoando e hoje disputo títulos, mas não é fácil. Tem muita fera por aqui", brinca.
Um dos fatores que ainda colaboram para manter a tradição do futebol de mesa é a relação familiar. É o caso do estudante Guilherme Moura, 20, filho de Manoel. O jovem, que cresceu vendo o pai cuidar dos botões e golear seus adversários, preteriu o videogame de última geração que tem em casa para estar em contato com a famosa palheta e os craques redondos. "Gosto muito dessa atmosfera. Diferentemente do futebol digital, que tem os comandos já definidos no controle remoto, o jogo de botão te dá o prazer de improvisar várias jogadas, táticas e visão do melhor ângulo para chutar a gol. Tem aquela sensação de ao mesmo tempo você treinar e ser o jogador", conta ele.
Mercado
O comércio do futebol de mesa não é o mais o mesmo. Dono de uma loja especializada em artigos esportivos na Avenida Antônio Sales, em Fortaleza, o empresário Sérgio Vasconcelos reconhece que a procura pelos botões praticamente acabou. "Sinceramente, não lembro mais qual foi a última vez que vendi um jogo de botão ou um campo (mesa) para um cliente comum. Não resta dúvida que os brinquedos digitais afastaram esse público", comentou o comerciante.
Mesmo com a ausência dos fregueses assíduos, na sua maioria crianças e adolescentes, que frequentavam a loja acompanhados dos pais, o empresário continua trabalhando com diversos itens relacionados ao jogo, como botões de acrílico e mesas, das simples às sofisticadas. Ele ainda crê em dias melhores. "Se tiver quem faça um bom investimento e uma boa divulgação, acredito que o comércio do futebol de mesa poderá voltar a ser o que era antes", aponta.
Fique por Dentro
Clubes ajudam competidores em torneios
A Federação Cearense de Futebol de Mesa conta, atualmente, com seis clubes regularizados - Ceará, Fortaleza, Quixadá, Moreira Futmesa, Jóquei Futmesa e AFFUME Futmesa (os dois últimos formados por grupos de amigos que montaram as referidas agremiações).
"Cada equipe conta com até 10 botonistas. Algumas tem até mais. Cada clube indica seus representantes por meio de documentação oficial e eles ainda são responsáveis por montar a equipe. Sempre ajudam com os materiais (camisas e calções), uma vez por ano. Também ajudam divulgando as competições", explica o presidente da Futmece, Rafael Moreira.
Os praticantes do futebol de mesa no Ceará costumam se reunir duas vezes por semana (segundas e quintas-feiras), sempre à noite, na Academia Cearense de Tênis, localizada no Papicu (Rua Paulo Morais, 333). As competições acontecem em comum acordo com os botonistas, que elaboram um calendário anual, com etapas mensais. "Qualquer pessoa interessada em reviver essa emoção ou aqueles que desejam jogar pela primeira vez pode comparecer aos nossos encontros semanais. Temos uma variedade de times disponíveis e gente suficiente para ajudar a explicar a jogabilidade e as regras do futebol de mesa", ressalta Rafael Moreira.
A intenção dos organizadores cearenses é sediar o Nordestão de Futebol de Mesa - evento que poderá reunir até 60 praticantes - no segundo semestre de 2015.
Saiba Mais
O início de tudo
O futebol de botões foi inventado em 1930 pelo brasileiro Geraldo Décourt. No início, eram utilizados botões de cueca ou de calças de uniformes escolares. Ao longo dos anos, vieram os 'jogadores' feitos à base de osso, capas de relógios e até do famoso e popular material de acrílico. Passou a ser chamado de Futebol de Mesa pelos praticantes mais experientes.
Competições
No Brasil, quem regula e orienta a prática do Futebol de Mesa é a Confederação Brasileira de Futebol de Mesa (CBFM). Foram surgindo também as federações estaduais e, atualmente, existe uma interligação estrutural entre os eventos promovidos por elas.
Modalidades
No Brasil, o futebol de mesa é praticado em cinco modalidades, três oficiais (Disco, Bola 12 Toques, Bola 3 Toques) e duas experimentais (Dadinho 9x3 e Pastilha).
Fonte: Irailton Menezes - Repórter - Diário do NE
Seja bem-vindo ao blog "BOTÕES PARA SEMPRE", um espaço voltado para os praticantes do Futebol de Mesa que, assim como eu, coleciona antigas marcas de botões como Brianezi, CRAK´S, Crakes (Jucrake), Ki-Gol, Estrela, Curinga, Champion, Bolagol, Gulliver, Sportec, Canindé, Bola no Gool, Sonaplast, Jofer, Onze de Ouro, Ídolos do Futebol, SportBol etc. Compro ou aceito doações de botões ao acervo. Não faço avaliações de itens e nem publico anúncios de vendas.
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