Os bons tempos de futebol de
botão – Coluna do Carrieri
By Nogueira – site 'O fino da Bola'
Imagino que todos aqui já jogaram
pelo menos uma vez futebol de botão. Compreendo que alguns não se encantaram
com a brincadeira. Mas alguns, inclusive eu, foram verdadeiramente
“enfeitiçados” por essa magia, que lhe permite ser o presidente do clube, o
técnico, até mesmo a própria Federação, além do mais importante: ser os
jogadores em campo. Você se sente capaz de fazer algo por seu time: chuta,
defende, luta em campo, algo que um simples torcedor não pode fazer. A sensação
de representar um time, em um jogo de botão representa para esse “enfeitiçado”,
sem exageros, o que há de mais próximo da emoção que o futebol real nos
proporciona. Só quem já defendeu seu time preferido contra um adversário,
torcedor de um clube rival, pode entender o que eu estou dizendo. Você já
passou um dia, uma semana, não conseguindo pensar em outra coisa que uma final
ou jogo decisivo de seu time? Pois eu lhe garanto que eu e muitos que conheço
já viveram essa ansiedade em um campeonato de futebol de botão.
Nasci em 1968, portanto incapaz
de descrever como o futebol de botão atravessou essa década. Prefiro falar
daquilo que vivenciei. Comecei a jogar nos anos 70, onde o jogo estava
relativamente em alta. Havia uma disponibilidade razoável de times, tanto os
“oficiais”, fabricados principalmente pela Brianezi, um verdadeiro “sonho de consumo” para
qualquer garoto de pelo menos 10 anos, mas que por não serem tão baratos
geralmente eram substituídos pelos botões de plástico, menores, como os
Gulliver, Bolagol entre outros, geralmente associados a alguma fábrica de
brinquedos. Havia poucos campos com medidas oficiais. Os mais utilizados, além
do que cabiam em qualquer sala ou quarto, eram os famosos “estrelões”. Alguns
se arriscavam a desenhar as linhas em mesas de jantar, tábuas de madeira, até
mesmo num chão liso. Engraçado que muitos, por falta de amigos para jogar,
disputaram várias partidas, campeonatos, sozinhos.
A se destacar também a iniciativa
que muitos tinham em confeccionar seus próprios times, especialmente com tampas
de relógio, garimpadas incessantemente pelas relojoarias da cidade. Esqueça
copiadoras coloridas digitais, toda sofisticação que existe hoje: a criação de
times, amadores, fictícios ou mesmo times que não eram produzidos, demandava um
trabalho artístico dos mais difíceis, incluindo os desenhados à mão.
Muitos entendem que o futebol de
botão acabou. Não é verdade. Reconheço uma perda na essência, no romantismo,
exatamente como aconteceu ao seu paradigma, o futebol profissional real, apesar
de ser evidente o seu enfraquecimento atual em relação às décadas de 70 e 80,
principalmente. A culpa recai sobre os jogos de futebol dos vídeo-games. Mais
uma afirmação que não considero verdadeira, pois além de dedicar parte do meu
tempo ao futebol de botão, sempre que posso me divirto em jogos como FIFA e
PES.
Acho que o ritmo de
vida que levamos hoje em dia, esse sim, quer nos fazer acreditar que não
podemos “perder” meia hora para jogar uma partida de botão com nossos filhos,
com nossos amigos. Vida moderna essa, que tem afastado muitos pais, filhos,
amigos de qualquer recreação e até de atividades esportivas. Será que é só o
futebol de botão que enfraqueceu? Você ainda vê tantas pessoas disputando uma
“animada guerra” de WAR como via antigamente? As pessoas estão se isolando cada
vez mais em computadores, tablets, smartphones, i-pads, e outros. Deveriam
apenas se aproveitar dessas excelentes ferramentas. Bom, mas isso é tema para
um outro post.
Não me perguntem qual será o
futuro do futebol de botão. Tenho um filho de três anos. Apresentei o futebol
de botão a ele há alguns meses. Quer ver ele ficar “doido” é colocar o campo no
chão e abrir a caixa de times. Conhece pelo menos uns 30 times entre
brasileiros e internacionais, incluindo escudos, uniformes e hinos. Não sei se
ele jogará futebol de botão. Nem sei se ele terá com quem jogar. Mas percebo
nele o mesmo encanto que um dia me contagiou. E no momento, isso me basta.
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